Quando o assunto é política, evangélicos e católicos têm muito comum. Além das pautas que primam pelos valores da família tradicional, ambos também concordam em uma coisa: a rejeição ao governo Lula.
Na última pesquisa do Datafolha, por exemplo, a aprovação do atual governo entre os católicos despencou de 48% para 24% e de 30% para 21% entre os evangélicos. O mesmo vale para a avaliação positiva, que recuou para 28% e 21%, respectivamente. Mas seria possível essa “união as forças” visando desbancar Lula nas próximas eleições?
Pelo menos o que depender das agendas, sim. O estudo da Mar Asset Management, com base em uma pesquisa da Pew Research Survey – “Aspectos sociais e costumes”, revelou que 66% dos evangélicos se opõem à legalização do casamento homoafetivo, contra 43% dos católicos. Além disso, 88% dos evangélicos consideram o aborto moralmente errado, enquanto que, entre os católicos, esse número chega a 80%.
Além disso, uma pesquisa do Datafolha, também analisada pela Mar Asset mostra que, para 55% dos evangélicos e 46% dos católicos, os valores religiosos devem ter, sim, algum tipo de influência nas decisões políticas do país.
“Muitos católicos praticantes compartilham das mesmas preocupações sobre temas como família, aborto e liberdade religiosa, o que pode aproximá-los da agenda defendida pelos evangélicos. Mas a influência evangélica sobre o voto católico tem limites, pois a estrutura da Igreja Católica é diferente, e o peso da orientação do clero sobre os fiéis ainda é considerável”, explica o vereador e pastor da Comunidade da Graça, em Vila Carrão (SP), Carlos Bezerra Jr.
Ele ressalta que a união de forças entre evangélicos e católicos nas próximas eleições se dá, principalmente, por conta das agendas que ambos defendem e da força de suas ações nos bastidores. Contudo, na sua opinião, apenas dizer que é de igreja X ou Y não é o suficiente.
“Nas eleições, é muito comum vermos candidatos se apresentando como pastores, missionários, bispos, entre outros títulos religiosos. Alguns são eleitos, mas outros perdem. Isso prova que o uso de títulos sacerdotais não garante vitória nas urnas. A bancada evangélica tem força porque sempre aparece na mídia. Mas existem outras bancadas poderosas, com lobbies fortíssimos, que não aparecem tanto, mas cujas demandas são muito mais influentes”, justifica.
Para Bezerra Jr., outro ponto forte em favor dos evangélicos é a forte atuação da bancada na Câmara. “A bancada evangélica ganha notoriedade principalmente em pautas morais. Os evangélicos serão um dos segmentos mais influentes nas eleições, como já foram nas últimas disputas presidenciais. Não porque votam de forma monolítica – há diversidade entre eles –, mas porque representam um grupo numeroso, organizado e mobilizado”, afirma.
Atualmente, a Frente Parlamentar Evangélica no Congresso inclui 220 deputados federais e 26 senadores. Mesmo assim, Bezerra Jr. faz um alerta para que a disputa política não entre para dentro das portas da igreja.
“A igreja tem um papel espiritual e social fundamental, mas não deve se tornar um comitê eleitoral. É legítimo que aborde temas políticos e sociais, mas sempre de forma equilibrada, sem se tornar palanque para um partido ou candidato específico. A Bíblia nos ensina sobre justiça, defesa dos vulneráveis e combate à corrupção, e esses princípios devem nortear a ação política dos cristãos. O problema acontece quando a igreja troca sua missão pastoral por interesses políticos imediatos. Isso prejudica sua credibilidade e pode levar à divisão entre os fiéis”, alerta.
Influência entre católicos e evangélicos já existe
Na opinião do pastor Rodolfo Capler, líder da Igreja Batista Alternativa em Piracicaba (SP), os católicos são tão decisivos na política quanto os evangélicos. A diferença, na visão dele, é a forma como cada grupo expõe essas atuações.
“A diferença é que os políticos evangélicos costumam ser mais midiáticos e ruidosos, enquanto os católicos atuam de forma mais discreta, mas não menos influente. Prova disso é o número expressivo de católicos que compõem a própria Frente Parlamentar Evangélica. Além disso, há uma influência mútua entre esses grupos. Os evangélicos influenciam os católicos em pautas morais e políticas, mas os católicos também moldam o pensamento evangélico”, justifica Capler.
Outro ponto importante abordado pelo pastor é quanto às pautas da direita que, na visão dele, é compartilhada por ambas as igrejas, o que fortalece ainda mais essa união. “No Brasil, um país de maioria católica e com os evangélicos caminhando rapidamente para se tornarem um grupo hegemônico, o conservadorismo tem bases sólidas. O que pode variar é o grau desse conservadorismo e se ele se inclinará para um viés mais democrático ou mais autoritário”, conclui.
Fonte: Comunhão