A Igreja Batista da Lagoinha, uma das maiores congregações evangélicas do Brasil, deu um passo inédito no campo das finanças ao fundar sua própria fintech, a Clava Forte Bank S/A. Registrada oficialmente sob o CNPJ 54.340.142/0001-27 e com sede em Belo Horizonte (MG), a instituição atua com foco exclusivo no público cristão, oferecendo produtos bancários para igrejas, pastores e fiéis.
O presidente da fintech é o pastor André Valadão, líder da Lagoinha nos Estados Unidos, e a diretoria está sob comando de sua esposa, Cassiane Montosa Pitelli Valadão.
Com base cristã declarada, o Clava Forte Bank opera como uma fintech privada, com linguagem e estratégia voltadas a uma comunidade religiosa que movimenta bilhões anualmente no país — um modelo ainda raro no Brasil, mas com potencial de expansão internacional.
A estrutura administrativa da Clava Forte Bank chama atenção por estar diretamente ligada à liderança religiosa da Lagoinha. André Valadão é uma das principais figuras do ministério fundado em 1957, filho do pastor Márcio Valadão, que liderava a sede central da igreja. Cassiane, esposa de André, ocupa o cargo de diretora da fintech.
A relação entre o banco e a igreja não é apenas simbólica. Durante cultos e transmissões realizadas por filiais da Lagoinha, como a de Madrid, na Espanha, contas da Clava Forte Bank são apresentadas como canais oficiais de doação, inclusive com número de agência e conta corrente exibidos nas telas. O fato confirma o uso direto da fintech como ferramenta financeira da instituição religiosa no exterior.
Serviços oferecidos e público-alvo
A Clava Forte Bank se apresenta como uma solução completa para o ecossistema cristão. A fintech oferece:
• Contas digitais individuais e institucionais;
• Cartões de crédito e débito;
• Linhas de crédito e financiamento;
• Seguros e assistências específicas;
• Plataforma digital via aplicativo com gestão financeira voltada a igrejas.
Com slogan “Investindo no futuro, fortalecendo o Reino”, a empresa se posiciona não apenas como provedora de serviços financeiros, mas como extensão do projeto missionário da Lagoinha. A atuação, embora registrada como empresa privada, incorpora expressões religiosas em sua identidade visual e nos canais oficiais, como o site e o app.
A proposta é atender um nicho específico que, até então, era majoritariamente cliente de bancos convencionais. A fintech oferece produtos desenhados para a rotina de líderes religiosos, como financiamento para templos, seguros para obreiros e cartões com limites adaptados à arrecadação das igrejas.
Inovação ou verticalização ministerial?
A existência de uma fintech ligada diretamente a uma denominação religiosa de grande porte como a Lagoinha representa uma mudança relevante na forma como igrejas operam financeiramente no país. Até então, era comum que denominações utilizassem bancos tradicionais para suas operações. Com o Clava Forte Bank, a Lagoinha internaliza esse fluxo, oferecendo estrutura própria para movimentações, arrecadações e pagamentos.
Não há ilegalidade aparente na estrutura — a fintech está registrada e segue as normas comerciais vigentes. No entanto, a ausência de menção clara à igreja nos registros oficiais e a centralização da gestão em uma família pastoral chamam a atenção de especialistas em governança e compliance.
Expansão e visibilidade
A ligação com a Lagoinha Madrid não é pontual. A tendência é que outras filiais, no Brasil e no exterior, passem a utilizar os serviços do Clava Forte Bank como canal padrão. A internacionalização do projeto, somada à base fiel já consolidada, pode transformar a fintech em um braço financeiro do movimento evangélico liderado pela família Valadão.
Apesar da discrição institucional, o surgimento do Clava Forte Bank representa um novo estágio da chamada “economia da fé”, na qual a religiosidade, a gestão patrimonial e os serviços financeiros se encontram sob uma mesma administração.
