Durante um culto noturno realizado na segunda-feira, 8 de julho, supostos extremistas islâmicos atacaram a Igreja Batista Bege na vila de Yaribori, localizada no Condado de Kafur, estado de Katsina, no noroeste da Nigéria. Cerca de 15 a 20 homens armados invadiram o local, atiraram no pastor batista Emmanuel Na’allah Auta e no fiel Mallam Samaila Gidan Taro, além de sequestrarem uma mulher da congregação.
Zakariya Jatau, membro da igreja, informou à imprensa que o pastor estava conduzindo o culto e um estudo bíblico no momento em que foi alvejado. “Outra membro, uma senhora, também foi sequestrada e levada para um lugar desconhecido”, afirmou Jatau. A identidade da mulher não foi divulgada.
Conforme relatos de membros da congregação, Gidan Taro era um convertido do islamismo e conhecido na comunidade cristã. Já o pastor Na’allah trabalhava ativamente na reconciliação entre cristãos e muçulmanos da vila, segundo destacou o portal TruthNigeria.
Ataques contínuos no estado de Plateau
Além do ocorrido em Katsina, o estado de Plateau, localizado no centro do país, tem sido alvo constante de ataques violentos contra cristãos. Segundo o portal Christian Daily International-Morning Star News, pelo menos 20 cristãos foram mortos por pastores Fulani durante o mês de junho em uma das regiões do estado.
No Condado de Mangu, uma moradora identificada como Esther Luka relatou que, no dia 27 de junho, dois cristãos foram mortos por pastores armados na comunidade de Gyambwas, distrito de Langai. “O pai do meu amigo, Rose Dapus, foi à sua fazenda com cerca de 15 trabalhadores. No final do dia, ele permaneceu com o filho para finalizar o serviço, quando os pastores atacaram. O filho escapou, mas o pai foi morto a tiros”, escreveu Luka em mensagem ao portal.
Outros casos foram registrados no mesmo condado. Em 19 de junho, três cristãos foram mortos na vila de Manja enquanto trabalhavam em suas plantações, conforme declarou o deputado estadual Mathew Kwarpo. Durante o ataque, mais de 20 casas cristãs também foram incendiadas.
Em Chicim, oito cristãos foram assassinados em 11 de junho, e na vila de Bwai, sete pessoas foram mortas no dia anterior, segundo relatou o morador Jeremy Nyuwa. Ele afirmou que os agressores invadiram as comunidades atirando nos cristãos que encontravam.
13 aldeias atacadas em Bokkos
No Condado de Bokkos, também em Plateau, 13 aldeias predominantemente cristãs foram atacadas por pastores Fulani e outros extremistas desde maio. Segundo fontes locais, os episódios resultaram em pelo menos 80 mortos e dezenas de casas destruídas.
No dia 29 de junho, as aldeias de Tulus, Hokk e Juwan foram invadidas. A casa de um pastor foi incendiada durante o ataque em Hokk. O presidente do Conselho de Governo Local de Bokkos, Amalau Samuel, declarou: “Os agressores chegaram tarde da noite e começaram a matar pessoas inocentes. Eles iam de casa em casa e, onde não conseguiam entrar, arrombavam o teto”.
Samuel destacou que os mais vulneráveis foram idosos e crianças que não conseguiram fugir. Moradores também apontaram que há acampamentos terroristas ativos nas áreas de Daffo, Mbar, Tangur, Pyakmallu, Butura e Kwatas. Informações sobre esses acampamentos foram compartilhadas com autoridades militares e agências de segurança do país.
Contexto e motivações
Segundo relatório do Grupo Parlamentar Multipartidário para a Liberdade ou Crença Internacional (APPG), publicado no Reino Unido em 2020, embora a maioria dos fulanis não adote visões extremistas, uma parte desse grupo aderiu à ideologia islâmica radical e tem como alvo comunidades cristãs. “Eles adotam uma estratégia comparável à do Boko Haram e do ISWAP e demonstram uma clara intenção de atingir cristãos e símbolos poderosos da identidade cristã”, afirma o relatório.
Líderes cristãos na Nigéria apontam que os ataques têm como objetivo forçar a ocupação de terras agrícolas pertencentes a cristãos e impor a expansão do islamismo em regiões do Cinturão Médio do país. A desertificação no norte, onde vivem muitos dos pastores fulani, teria agravado os conflitos por recursos.
Perseguição cristã na Nigéria
A Nigéria permanece entre os países mais perigosos do mundo para cristãos, conforme a Lista Mundial da Perseguição 2025 da organização Portas Abertas. De acordo com o relatório, dos 4.476 cristãos mortos no mundo por causa de sua fé durante o período analisado, 3.100 foram assassinados na Nigéria, o equivalente a 69%.
A entidade afirma que “o nível de violência anticristã no país já está no máximo possível segundo a metodologia da Lista Mundial de Perseguição (WWL)”. A perseguição se concentra principalmente na zona centro-norte, mas também se espalha para o sul do país, à medida que grupos armados se expandem.
A WWL observa ainda que um novo grupo jihadista, chamado Lakurawa, surgiu recentemente no noroeste do país, equipado com armamento moderno e alinhado com a ideologia da Al-Qaeda, através do grupo Jama’a Nusrat ul-Islam wa al-Muslimin (JNIM), com base no Mali.
Apesar da gravidade dos ataques, a atuação das forças de segurança nigerianas tem sido limitada e insuficiente, segundo relatos locais. Autoridades militares confirmaram alguns dos ataques recentes e afirmaram ter enviado tropas às regiões afetadas. No entanto, moradores afirmam que os agressores continuam atuando impunemente em diversas áreas rurais, onde o controle do governo é frágil.
A escalada da violência religiosa e étnica na Nigéria continua gerando preocupação entre organizações internacionais de direitos humanos e liberdade religiosa, de acordo com informações do The Christian Post.