Uma organização formada por cristãos progressistas nos Estados Unidos reconheceu publicamente o uso indevido da imagem do falecido evangelista Billy Graham durante a eleição presidencial de 2024.
O grupo, anteriormente conhecido como Evangélicos por Harris — em apoio à candidatura da ex-vice-presidente Kamala Harris — divulgou nesta semana um pedido formal de desculpas à Associação Evangelística Billy Graham (BGEA), liderada por Franklin Graham.
Após a derrota de Harris na eleição de 5 de novembro de 2024, a entidade foi rebatizada como Evangélicos pela América. Em nota divulgada no início desta semana, o grupo reconheceu que cometeu um erro ao utilizar trechos de sermões do Rev. Billy Graham em anúncios políticos durante a campanha presidencial.
“Antes da eleição presidencial de 2024, a campanha ‘Evangélicos por Harris’, do Evangelicals for America PAC, produziu diversos anúncios usando clipes do Rev. Billy Graham”, informou o grupo. “Fizemos isso acreditando que o uso dos clipes do Rev. Graham, embora não tenha sido feito com a permissão prévia da Associação Evangelística Billy Graham (BGEA), atenderia aos critérios de Uso Justo da Lei de Direitos Autorais dos EUA”.
Segundo a organização, os anúncios foram veiculados especialmente em estados considerados decisivos, e custaram mais de US$ 1 milhão. O conteúdo buscava associar a figura do então presidente Donald Trump às advertências bíblicas de 2 Timóteo 3:1-5, sobre os “tempos difíceis dos últimos dias”.
Em resposta, a BGEA, sediada em Charlotte, Carolina do Norte, e liderada por Franklin Graham, filho de Billy Graham, enviou uma carta de cessação e desistência em outubro de 2024, exigindo a suspensão do uso do material.
“A BGEA nos escreveu, preocupada com a possibilidade de estarmos infringindo seus direitos autorais sobre os videoclipes do Rev. Graham, ao usá-los para fins políticos sem autorização”, admitiu o grupo. “Nossa intenção não era infringir os direitos autorais da BGEA ou dar a impressão de que o Rev. Graham teria tomado partido apoiando publicamente um candidato político em detrimento de outro em uma eleição, por isso pedimos desculpas à BGEA”.
O grupo afirmou ainda que desde a eleição de Trump tem mantido diálogo com a BGEA e reconheceu que o ministério de Billy Graham não tinha por objetivo se envolver em política partidária.
“Mantivemos o diálogo com a BGEA desde a eleição e reafirmamos sua posição de que o propósito do Rev. Graham sempre foi claro: falar às pessoas sobre o Filho de Deus, Jesus Cristo, o único que veio do céu à terra para abrir um caminho para que toda a humanidade fosse salva de nossos pecados”.
A entidade também destacou a postura do evangelista em alcançar todos os públicos, independentemente de filiação política ou nacionalidade: “O Rev. Graham tinha como objetivo fazer com que o Evangelho fosse ouvido por todas as pessoas, fossem elas americanas que se identificavam como democratas, republicanas ou de outra forma, ou simplesmente pessoas de outro país que não tinham contexto para a política americana”.
Em tom conciliador, o grupo expressou gratidão à associação fundada por Graham por ter tratado a questão pacificamente, mencionando o texto bíblico de Romanos 12:18 como referência de conduta.
Ao final da nota, os Evangélicos pela América comprometeram-se formalmente a não repetir o uso de conteúdo protegido por direitos autorais da BGEA sem autorização explícita:
“Consequentemente, removemos e não republicaremos nossos anúncios que incorporavam videoclipes do Rev. Billy Graham, e os Evangélicos pela América e seus diretores se comprometeram a não usar conteúdo em defesa eleitoral sobre o qual a BGEA reivindica direitos autorais ou outros interesses legais no futuro sem permissão clara e por escrito”.
“Nossa esperança é que essas ações e nosso compromisso de não usar o Rev. Billy Graham em um contexto eleitoral partidário esclareçam a confusão sobre a mensagem em nossos anúncios originais; afirmem o valor e a importância do diálogo cristão sobre a maneira como nos envolvemos na política e priorizem os cristãos que permanecem em comunhão, apesar das diferenças”.
Durante a campanha de 2024, Franklin Graham fez duras críticas ao uso da imagem de seu pai nos anúncios pró-Harris. Em mensagem publicada em suas redes sociais no verão passado, o pastor escreveu:
“Os liberais estão usando tudo o que podem para promover a candidata Harris. Eles até criaram um anúncio político tentando usar a imagem do meu pai [Billy Graham]. Estão tentando enganar as pessoas. Talvez não saibam que meu pai apreciava os valores e as políticas conservadoras do presidente [Trump] em 2016, e se ele estivesse vivo hoje, as visões e opiniões do meu pai não teriam mudado”.
Na contramão de Franklin, a neta de Billy Graham, Jerushah Duford, participou de eventos promovidos pela Evangélicos por Harris. Em uma reunião online, ela afirmou: “Para mim, votar em Kamala é muito mais importante do que políticas. É um voto contra mais quatro anos de líderes religiosos justificando as ações de um homem que destrói a mensagem que Jesus veio espalhar, e é por isso que me envolvo na política”.
Jerushah Duford é conselheira e ativista pelos direitos da comunidade LGBTQ em Greenville, Carolina do Sul. Sua posição pública refletiu as divisões entre cristãos nos Estados Unidos em torno do envolvimento político da igreja e do uso de figuras religiosas históricas em campanhas eleitorais, de acordo com informações do The Christian Post.