A organização cristã Voz dos Mártires (VOM) afirmou que a evangelização por meio de transmissões de rádio continua sendo o método mais eficaz para pregar o Evangelho na Coreia do Norte. Eric Foley, representante da VOM no país, explicou em entrevista ao Mission Network News que, mesmo diante das restrições, o rádio permanece como uma ferramenta estratégica.
“Ouvir qualquer transmissão de rádio estrangeira é ilegal e altamente punível”, declarou Foley. Segundo ele, cerca de 20% dos norte-coreanos possuem rádios capazes de captar transmissões em ondas curtas, índice considerado mais elevado do que qualquer outro meio de comunicação acessível para o Evangelho.
Foley ressaltou ainda que o comportamento reservado dos norte-coreanos cria um cenário peculiar: “Os norte-coreanos são muito reservados. Quando ouvem essas coisas, não as compartilham com muitas pessoas. Mas, quando ouvem algo no rádio que realmente os impacta, há a oportunidade de compartilhar com outros membros da família”.
Risco de bloqueio
O representante da VOM explicou que transmissões governamentais estrangeiras, antes direcionadas principalmente contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul, podem agora ter parte de seus esforços voltados para emissoras cristãs.
Ele destacou que informações divulgadas sobre bloqueios já implementados não correspondem à realidade: “Veículos nos EUA relataram erroneamente que o bloqueio já ocorreu ou que as transmissões de rádio cristãs foram interrompidas. E isso simplesmente não é verdade”.
Foley acrescentou que a organização está tomando medidas preventivas: “O que é verdade é que as emissoras cristãs estão realmente cientes disso e estamos tomando todas as medidas possíveis para nos prepararmos para a possibilidade de a Coreia do Norte redirecionar parte da eletricidade que costumava usar contra as transmissões dos governos dos EUA e da Coreia do Sul para bloquear as nossas”.
Apesar dos riscos, a VOM Coreia anunciou a inclusão de uma nova transmissão diária, mantendo a leitura contínua da Bíblia e ministrações dos primeiros cristãos coreanos.
Tradição e identidade cristã
Segundo Foley, a escolha por mensagens históricas atende a um aspecto cultural e espiritual: “Começamos a usar locutores norte-coreanos e, desde o início, nossa transmissão só teve locutores norte-coreanos. Então, descobrimos que essas pregações dos primeiros cristãos coreanos realmente tocaram o coração do povo norte-coreano hoje, porque a situação deles é muito idêntica”.
Ele observou que, enquanto a igreja sul-coreana sofreu transformações com a modernização do país, a realidade no Norte permanece semelhante ao passado: “É possível traçar uma linha reta a partir dos primeiros cristãos coreanos da década de 1880, quando o cristianismo protestante chegou à península coreana. Hoje, os cristãos norte-coreanos não mudaram. Portanto, as ministrações desses grandes pioneiros, os primeiros cristãos coreanos, realmente tocam seus corações”.
Formato renovado
A organização relatou que suas transmissões passaram a adotar um formato mais colaborativo e acolhedor, inspirado no estilo recente das emissoras estatais da Coreia do Norte.
“Notamos que as transmissões de rádio recentes da Coreia do Norte têm um tom mais amigável e acolhedor. Por isso, adotamos um formato colaborativo com apresentadores norte-coreanos compartilhando histórias sobre a fé cristã e a Bíblia, mudando o formato de forma inovadora para alcançar os ouvintes norte-coreanos com uma conexão emocional mais calorosa”, explicou Foley.
Além das pregações, as transmissões incluem novos hinos criados no “Projeto Himnal”, reforçando a identidade cristã no idioma e contexto local.
Pedidos de oração e segurança
Foley ressaltou a necessidade de sigilo em toda atividade cristã dentro do país e fez um pedido: “Por favor, orem pelos desertores norte-coreanos que, ainda dentro do país, tiveram contato com transmissões de rádio cristãs, para que as sementes do Evangelho lançadas através das ondas sonoras germinem e produzam frutos em sua fé em Jesus”.
Ele também solicitou intercessão para as transmissões previstas em 2025, citando o programa “A Verdadeira Voz dos Mártires”, alvo de interferência estatal: “Orem para que os ouvintes consigam receber o sinal com clareza e para que todas as tentativas de bloquear as transmissões cristãs sejam frustradas”.
Relatório de 2024 e resultados
Um relatório publicado em 2024 mostrou que a missão transmitiu 1.460 programas de rádio de ondas curtas para a Coreia do Norte, em quatro transmissões diárias ao longo do ano. O documento apontou que 54% das transmissões no outono foram recebidas de forma clara, sem bloqueios, enquanto no inverno apenas 11% sofreram interferência significativa, mantendo 89% estáveis.
O relatório também registrou a atualização de 52 conteúdos de programas, oferecendo apoio seguro para colaboradores que atuam na formação de discípulos dentro do país.
Contexto de perseguição
A Missão Portas Abertas, em sua Lista Mundial da Perseguição de 2025, posicionou a Coreia do Norte em 1º lugar entre os países mais hostis à prática cristã. A classificação reflete as restrições e penalidades impostas pelo regime a qualquer manifestação religiosa fora do controle estatal.