O espaço de 800 metros quadrados construído pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, líder do Complexo de Israel, começou a ser demolido na última terça-feira, 11 de março.
Localizado na favela Parada de Lucas, na zona norte do Rio de Janeiro, o imóvel do traficante chamava a atenção não apenas pelo luxo, mas também pelas diversas referências bíblicas espalhadas pelo local.
Entre os elementos encontrados no espaço, havia um monte de oração, piscinas com versículos gravados e quartos contendo Bíblias. A Polícia, que realiza operações no local desde 2023, encontrou ainda uma piscina com um painel que dizia: “Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”, imagens do Domo da Rocha, em Jerusalém, e de militares israelenses.
Em um dos quartos, havia uma Bíblia ao lado de um equipamento de sadomasoquismo, além de uma réplica da Arca da Aliança e invólucros contendo terra vinda de Israel. No topo da comunidade, Peixão chegou a instalar uma Estrela de Davi de neon, que foi removida nesta terça-feira, de acordo com o Pleno News.
O traficante Peixão está foragido e é apontado como o principal responsável pela organização do Complexo de Israel, facção ligada ao Terceiro Comando Puro (TCP). Ele teria reorganizado a estrutura criminosa em 2020, ampliando o domínio sobre as favelas Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-Pau, além de influenciar bairros vizinhos, como Brás de Pina e Cordovil, onde vivem mais de 134 mil pessoas.
‘Narcopentecostalismo’
Pesquisadores apontam que Peixão é um dos responsáveis pela difusão do chamado “narcopentecostalismo”, fenômeno em que traficantes frequentam e financiam igrejas evangélicas, além de buscar orações para proteção em confrontos com a polícia ou facções rivais.
O líder do Complexo de Israel se autodenominava comandante da “Tropa de Arão”, em referência ao irmão de Moisés, e promovia a veneração ao Estado de Israel, chegando a hastear uma bandeira do país no território dominado pelo tráfico.
De acordo com a pastora e cientista da religião Viviane Costa, autora do livro Traficantes Evangélicos: Quem São e a Quem Servem os Novos Bandidos de Deus, a narrativa utilizada por Peixão e outros traficantes evangélicos se baseia em figuras bíblicas do Antigo Testamento.
“Nos textos do Antigo Testamento, são invocadas imagens de Davi, de Josué, dos guerreiros conquistadores de terras e das promessas dadas por Deus. São homens fortes que invadiram territórios, mataram pessoas e estabeleceram a vitória do Deus de Israel sobre outras cidades e povos do Antigo Testamento”, afirma Viviane Costa.
O fenômeno tem sido observado em diferentes regiões do país, onde traficantes adotam símbolos e discursos religiosos para consolidar poder e influência sobre a população local.